26/04/2010

Afastou vagarosamente as cortinas que impediam a luz de entrar, protegeu os olhos dos raios do sol e em pouco tempo se acostumou com eles. Abriu a porta e pensou naquele instante, como agüentou ficar longe da luz tantos anos? Respirou fundo, olhou para o céu e deixou que o claro e o azul entrassem em seu apartamento e removesse o odor e o frio da solidão. Olhou para baixo e percebeu que a cidade estava agitada, pequenos mundos transitavam pelas ruas. Mas, excluiu de sua mente a individualidade das pessoas e focalizou apenas a sua.

Hoje ela faria seis anos que não via o mundo, se trancou em seu apartamento e rendeu-se a uma angustia particular e uma estranha obsessão pelo escuro e a vontade de dormir. Apagar de sua mente lembranças, adiar responsabilidades e não tomar decisões, foi tudo que quis. Por isso, trancou-se na tentativa de ser esquecida e de esquecer.

Durante esses anos quis algumas vezes sair de casa, retomar sua vida, recomeçar. Tentou, mas foi pior. Cada fracasso deixou seu apartamento mais escuro e sua porta mais trancada.

O chão estava sujo, seus cabelos também. Havia vestígios de beleza em seu rosto, mas sua aparência era péssima, igual ao seu coração. Nesse instante seus sentimentos se confundiam entre cumprir a sentença que ela mesma impôs, por algo que julgava ter sido o seu maior erro, ou permitir que o acaso mostrasse significado em ter sobrevivido a tantos fracassos, a tanta escuridão. Para ela a resposta era óbvia, não havia razão alguma para continuar fingindo, lutando, sobrevivendo, tentando. Tudo que ela mais queria era parar. Ela quis parar antes. Antes de tudo se perder.

Imortalizar algo que um dia acabaria era impossível. Mesmo assim, ela se culpou por não ter conseguido. Foi algo que fugiu do seu controle, algo inesperado por ela. Mas, isso não tiraria dela a culpa por ter acabado. As historias tomaram rumos diferentes do que ela havia planejado, era inevitável que isso acontecesse.

Mas agora ela estava ali parada, com os pés descalços, deixando a luz entrar. Fechou os olhos e seus pensamentos atormentaram com alguns medos de fracassar novamente, abriu-os rapidamente. Então algo inesperado aconteceu. No meio da selva de pedras, enquanto pisava o chão frio e sujo da varanda de seu apartamento, observou uma borboleta que voava perto do seu rosto. O vento assanhou os seus cabelos, mas isso não a incomodou. Debruçou-se sobre a marquise e viu lá de cima toda a vida que existia, da qual fugiu por tanto tempo.

Os seus medos ainda estavam ali, secretamente dentro dela. Mas, sentia que deveria tomar uma decisão, deveria dar uma chance ao acaso. Talvez, pudesse ganhar algo melhor do que o que havia perdido. Acreditar nisso exigia fé, no mínimo esperança. E isso ela já havia perdido há muito tempo. Precisaria, então, que alguém lhe ajudasse e forçasse a tomar essa decisão. Mas, quem?! Ela não tinha, absolutamente, ninguém.

Trancada e afastada de todos, depois de anos, nada poderia sobreviver. Nem ela, nem seus sonhos, nem sua beleza. Mas, ao abrir a única porta que existia, fez com que a luz entrasse novamente e isso lhe trouxe uma nova companhia. A borboleta. Era tudo que ela precisava.
Ela soltou os braços, procurou a postura, puxou a respiração e parou. Ficou ali parada por alguns segundos sem respirar, sem pensar em nada. Sentiu a suavidade da borboleta que acabara de pousar em seu ombro esquerdo. Virou a cabeça para este lado, lentamente abriu os olhos e com ele um sorriso. Suspirou e percebeu que a borboleta não voou assustada, algo finalmente começava a dar certo para ela. Então percebeu que durante anos se puniu por ter perdido algo que julgava lhe fazer bem, mas agora recebera a absolvição.

Aquela borboleta trouxe a vida novamente para ela, limpou a sujeira, resgatou sua auto-estima, trouxe luz. Ela agora tinha alguém, tinha um motivo, uma razão, uma esperança. Ela não precisava mais correr atrás do inalcançável, pois tudo que precisava havia pousado em sua vida sem nenhum esforço.

Não sabia direito ainda como agir, nem o que fazer daquele dia em diante. Mas deixou que a borboleta a guiasse. Seria a primeira vez que isso aconteceria, sentia que a partir dali tudo iria mudar e ela estava ansiosa por isso.

23/04/2010

Todos me falam da loucura dos fatos, das incertezas, dos erros, da precipitação...

Todos, sem exceção, querem controlar os meus atos.

Dizer como devo agir [ou melhor, não devo agir], o que devo esperar, querem me prevenir... Justificando que é para o meu bem.

É loucura demais... Ariscado demais...

Me cercam de histórias parecidas [e que deram errado], me enchem o saco o tempo todo...

Mas, a culpa não é deles... Fui eu quem os acostumou assim...

Agradar os outros sempre foi meu objetivo [frustrado] de vida.

Sempre me preocupei com os que os outros diziam, pensavam e achavam de mim... Mas, agora não é mais assim... Eu não preciso dessa aprovação...

Quero correr todos os riscos, quero me lançar, quero sonhar que estou realizando um sonho e acordar realizada, quero viver um pra sempre, sem que ele acabe...

Um homem sábio certa vez falou: "a gente pode ter qualquer coisa na vida, desde que sacrifique todo o resto por aquilo". O que ele quis dizer é que tudo tem seu preço, e que antes de entrar na guerra é melhor decidir quanto está disposto a perder...

Geralmente ir atrás do prazer significa abrir mão do que sabemos que é o certo, e deixar alguém entrar nas nossas vidas significa abandonar os muros que passamos a vida toda construindo. Mas, "TER CERTEZA É MELHOR QUE IMAGINAR; ACORDAR É MELHOR QUE DORMIR" (Benjamin Franklin).

Mesmo o maior fracasso, mesmo o pior e mais incontornável erro, é melhor do que nunca tentar...

18/04/2010

Patch Adams (Poema)

Poema de Pablo Neruda, já postado aqui. Mas, vale apena relembrar em especial esse trechinho. Inda mais, com imagens desse filme [maravilhoso], Patch Adams - O amor é contagioso [vale apena assistir]

16/04/2010

Detonautas - O Retorno de Saturno



Quinta da Boa Vista, já estive lá... Saudades... Local lindo... Música perfeita...

"Visão do espaço, estamos tão distantes... Hoje eu acordei, te quis por perto... E você não sai do meu pensamento e eu me questiono aqui se isso é normal... Entre o retorno de Saturno e o seu, busco uma resposta que acalme o meu coração. Do amanhã não sei o que posso esperar... Você não sai do meu pensamento e eu me pergunto aqui, se o natural vai dizer que o amor chegou no final? Não precisa ser de novo assim tudo igual".

[Aff.... Xaudadssssss do teu cheiro, dos teus olhos, do teu jeito, do teu carinho, do teu beijo, do teu abraço, das tuas mãos, dos teus cabelos, do teu sorriso, de VOCÊ!]

13/04/2010

“Vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir, pois não há tempo que volte”!

Às vezes, as pessoas simplesmente param de viver enquanto ainda estão vivas. Os medos, os receios, as frustrações, ou a falta de oportunidades estagnam a vida de muita gente. A maior tristeza ao se atingir a velhice deve ser essa, olhar para trás e ver que não conseguimos nada, não fizemos nada, não realizamos nada. E isso não aconteceu, puramente por que não desejamos nada, não objetivamos nada e não sonhamos nada... Lê-se o NÃO, como um impedimento proposital, ou quase que desejado, onde não conseguimos não porque queríamos e não nos foi concedido, mas porque nos conformamos com o que “a vida” tem pra nos dar... Talvez esse meu pensamento seja idealizador, juvenil... Mas, prefiro morrer com essa alma jovem [mesmo que esbofeteada pelas frustrações da vida] a morrer de arrependimento por tudo aquilo que eu quis e não consegui; tudo o que eu almejei e não alcancei; tudo o que eu sonhei e não realizei. Prefiro morrer tentando viver, a viver como quem já está morta...

Pessoas falam que eu me lanço demais, me entrego demais, corro riscos demais, sonho demais, viajo na maionese demais... Já me puni por isso, já sofri com isso, já tentei mudar... Mas, assim como em outras coisas, não consigo mudar quem sou. E nesse caso, não quero mesmo! Tudo bem, vocês estão certos, cautela e caldo de galinha não faz mal a ninguém... O problema é que muitas vezes perdemos grandes oportunidades por ter “cautela” demais... Onde que na verdade, na verdade, a palavra cautela [nesse contexto] tem mais haver com os medos, os receios e as frustrações que com cautela mesmo... Cautela é apenas o cuidado para evitar maus resultados e não a abstinência de sonhos, objetivos, aventuras, amores, loucuras... Gente sonhar vale apena! Se ariscar é imprescindível àquele que deseja vencer/conquistar/alcançar/realizar. Quem não sonha não consegue nada na vida e vive “satisfeito” [ou não] com o que a “vida” dar, vive recebendo apenas a rebarba [aresta] da vida e vive num conformismo de dar raiva! Quando não, se reclamando e invejando aqueles que conseguiram de alguma forma viver melhor...

É comum pessoas religiosas dizerem que “esperam em Deus”, jogando nEle toda a culpa dos seus [maus] resultados. E eu fico aqui pensando, se sou eu quem foge desses padrões religiosos [como sempre] ou se eles cegos que não vêem que ter fé é ter a certeza daquilo que não se pode ver. Então acho que sonhar é sinônimo de ter fé [e se ariscar é a prova da confiança em Deus].

Se jogue, sofra, chore, corra riscos, viva, viva!!! Vale mais apena enfrentar a morte e chegar ao fim de tudo cheios de histórias, de bagagem, de riscos corridos, de medos superados, de sonhos realizados, mas cheios de “VIDA”...

10/04/2010


 
"Eu sempre estendi as mãos

para as borboletas...

Abria os braços

para o passado saudoso...

para o futuro sonhado...

mas nunca tocaram em mim.

Hoje, fiquei imóvel

e uma pousou no meu pé".

[Fabio Rocha ]



08/04/2010

O medo de morrer

Nenhum assunto me cercou mais esses dias, que o terrível medo de morrer.
Nunca senti esse medo. E olha que em se tratando de medo, já senti (e sinto) muitos.
Mas, o pensamento constante da morte me rodeava.
Agora, escrever sobre isso parece idiotice, mas quero deixar escrito mesmo assim...

Quero lembrar a estranha sensação de me despedir (silenciosamente) de todos e do mundo... Sabe, nunca tive tanta compreensão de quanto é bom viver.
De como vale apena a gente acordar cedo pra trabalhar, lutar diariamente contra a preguiça, conquistar todos os dias o seu espaço ao sol, planejar seus sonhos, traçar seus objetivos e alcançá-los. Morrer agora pareceria derrota. Nadar e morrer na praia. Antes, seria desistência, covardia, cansaço, falta de esperança ou não conseguir enxergar horizontes... Agora tudo era perfeito e essa felicidade plena, parecia presságio para a morte. Lembro do dito: quando a esmola é demais, até o santo desconfia...

Ficar totalmente vulnerável nas mãos de outras pessoas me fez parecer um fantoche. Percebi como somos frágeis, pequenos, insuficientes...
De repente comecei a ver que tudo que quis, sonhei, planejei ou esperava que acontecesse em minha vida, dependia do trabalho de dois ou três profissionais... E claro, da permissão de Deus...

E quando tudo acabou, chorei...
Chorei num misto de felicidade e alívio. A primeira vez que isso ocorreu.
Engraçado é que eu sempre desejei chorar de felicidades, mas pensava em outros motivos, nascimento de uma criança, visita inesperada, casar, conhecer o Ben Afleck, ganhar na loteria, etc... Mas, o melhor motivo para chorar de felicidade eu nunca havia pensado: VIVER!

Só eu posso sentir quanto é bom estar viva, saber que tudo está no lugar, que o teto parou de girar, que o mundo ainda é meu, que ainda posso a qualquer momento olhar aquele sorriso e beijar aqueles olhos, que posso sentir o abraço das pessoas que amo, que eu posso me entregar, que eu posso viver... É inexplicável essa sensação...

Sei que posso estar colorindo os fatos (normal no meu mundo cor de rosa), sei talvez nada fosse tão grave assim... Mas, o medo existiu e me fez perceber que eu NÃO QUERO MORRER...
E isso pra mim hoje é muito mais que meras palavras, porque um dia (ou muitos outros dias) eu quis... Quis muito largar tudo aqui e ir embora...

E as pessoas me olhavam e viam apenas o sepulcro caiado, por fora bonito e bem chamativo, mas por dentro, continha morte, sujeira e podridão. E ninguém podia fazer nada, apenas eu podia mudar meu modo de ver a vida.